Última tarde em Jeri e a maratona de mais de 10 dias tomando sol e de pé na areia começavam a fazer efeito. Já não tinha mais tanta paciência para aquele calor todo e delirava com a possibilidade de estar num shopping center qualquer, curtindo todo o conforto do ar condicionado e um piso lisinho, só para variar. Pensava em heresias desse naipe, no momento em que alguns de meus amigos mochileiros do Piauí me chamaram para ver alguns deles numa aula de windsurf.
Apesar da empolgação deles, o preço do minicurso estava tão salgado quanto a água da praia logo em frente, o que me fez desistir de participar. Dessa forma, fiquei incumbido de ser o fotógrafo oficial da parte teórica na areia, o que era tudo, menos empolgante. Pior, à medida que ia me entendiando ao ouvir como se equilibrar, manusear a vela e tudo o mais, ia me dando uma vontade incomensurável de procurar um banheiro.
Estava numa situação delicada. Não podia deixar a câmera jogada lá, enquanto eles entravam no mar. Tampouco podia levá-la embora, pois mal sabia onde eles estavam hospedados. Era um dilema que fazia trançar minhas pernas, quando outro mochileiro, esse de Pernambuco, apareceu. Foi a minha salvação – como também era brother deles, deixei com ele a missão de registrar aqueles momentos, enquanto eu ia registrar outro bem mais importante logo ali.
O logo ali no caso era a Vila Kalango, pousada e restaurante de alto padrão, onde os piauienses contrataram o instrutor. Visto que tinha um restaurante e era todo aberto eu, tal qual um cachorro que entra numa igreja, fui entrando como se fosse um dos hóspedes, passando pelas mesas já vazias – eram cerca de 4 da tarde – indo direto e reto para o corredor que me levaria ao banheiro.
E não é que acabou sendo uma escolha mais que acertada? As instalações seguiam uma espécie de decoração rústica-chique. Era tudo feito, basicamente, de barbantes, palhas e madeira trançada, entre quatro paredes bem espaçadas de tijolos, que davam a impressão (e só a impressão, claro) de serem sem acabamento. O chão, daqueles batidos, tinha uma coloração meio mostarda, também interessante.
O vaso, simples, ornava com o restante do local, mas era acompanhado de uma duchinha, para casos mais extremos. O papel higênico era de boa qualidade e tinha ao seu lado uma plaquinha bilíngue, o que mostrava a quem aquele restaurante desejava receber na verdade.
Sua iluminação, toda indireta vinha, parte das frestas da janela acima do vaso, parte das luminárias que ladeavam o espelho. A toalha era limpa e felpuda, uma raridade. E a pia, era uma bacia reaproveitada de modo bastante criativo, bem como a colocação do encanamento e da torneira.
Em meio a tantos banheiros exóticos que experimentei durante aquela viagem até então, esse veio para redimir todos os outros com louvor. Considerando a sofisticação da pousada, deve ser meio caro fazer suas necessidades ali. Mas definitivamente vale a pena, especialmente quando é de graça.
Cotação: 4,5 privadas*
*sendo 1 privada, péssimo e 5 privadas, ótimo!
terça-feira, 5 de maio de 2009
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