sexta-feira, 30 de julho de 2010

Restaurante Varandas – Campinas/SP


Era para ser um dia normal na agência. Os trabalhos de sempre, os problemas de sempre, até que um acontecimento aparece e nos tira da rotina, criando situações inusitadas. Nesse dia em especial, aconteceu que, logo pela manhã, faltou água. Se eu estivesse numa escola, com certeza teria sido dispensado e voltaria para casa. Porém, a propaganda é uma profissão essencial para a sociedade e não pode parar. Outrossim, todos nós ficamos ali durante a manhã, muitos com sede apenas, outros, como eu, passando apertos intestinais e ávido por um banheiro.

O sofrimento durou até pouco mais de meio-dia, quando eu e meus amigos armamos o famoso bonde do almoço rumo ao Centro, a fim de variar um pouco o cardápio. Um deles, consciente dos parcos recursos dos integrantes, sugeriu um restaurante simpático de esquina, chamado de Varandas. Nome criativo e sagaz, provavelmente fruto das duas varandas que formavam o estabelecimento.

Apesar da situação delicada, sentia que poderia passar incólume até a volta. Foi quando avistei o banheiro do recinto. Exótico já na sua porta. Fiquei tentado. Olhei com aquela cara de “vou, não vou” e compartilhei meu drama com os presentes. A turba, sempre prestativa, deu tanto apoio à empreitada que um deles chegou a emprestar seu celular para tirar as fotos apresentadas aqui.

Enfrentei o desafio. Como muito dos lugares alternativos onde íamos matar a fome, já imaginava o que poderia encontrar. E, para minha surpresa, era tudo que eu esperava.  Não fosse agora a vontade exponenciada pela curiosidade, teria resistido mais bravamente.


O banheiro é do estilo de boteco, daqueles bem sujinhos, onde você só faz o número 1, com a distância necessária apenas para acertar o vaso e sair daquele ambiente fétido. Felizmente não era o caso, contudo, o chão molhado indicava que, ou fora lavado de forma meio porca ou porcos eram os habituées do local, vítimas de uma péssima pontaria. Considerando os odores, diria que era uma mescla dos dois.


Reparando melhor no ambiente, era evidente que ele era bem antigo. A começar pelos azulejos meia-barra, o pé direito alto, vazado próximo do teto com o banheiro feminino. Uma ótima ideia do arquiteto: querer que homens e mulheres compartilhem esse momento tão sublime na vida de todos nós.


Já o vaso e assento, provavelmente estavam instalados ali desde a última mini-reforma no local – pareceu-me que os pisos haviam sido mudados, mesmo que isso tivesse acontecido há muito. A pia, por outro lado, deveria ser tombada ou ser colocada naqueles museus onde são mostrados os costumes e hábitos de outrora.


A descarga, à válvula, resistia à ação do tempo com dignidade. Era daqueles modelos Hidra, com a proteção redondinha, tal qual um capô de Fusca. A porta, já não podia dizer o mesmo, já que a fechadura parecia mais um enfeite e a trinco não resistiria a um tranco mais forte.


Uma bela surpresa foi o papel higiênico, com uma qualidade que destoava do resto do conjunto e que era usado sem dó, visto que a lixeira vinha quase até a boca.

Juntando a fome com a vontade de comer, terminei rapidamente meu serviço e voltei para a mesa, onde meus bons amigos me esperavam sequiosos para ver se tinha feito o que tinha que fazer por ali.

Cotação: 1,5 privadas*.
*sendo 1 privada, péssimo e 5 privadas, ótimo.

Um comentário:

Samurai disse...

Digo com orgulho que testemunhei esse dia no saudoso fervo do centrão campineiro.